quarta-feira, 6 de março de 2013

O QUE TODO O HOMEM POLÍTICO DEVERIA SABER - Parte 1


RUMO AO REINO DA PAZ


Capitulo 7 da Coleção IZVOR 208


O QUE TODO O HOMEM POLÍTICO DEVERIA SABER

I

O ser humano é feito de duas naturezas (digamos assim para simplificar): uma natureza inferior, a que chamámos «personalidade» e uma natureza superior, a que chamámos «individualidade». Quando a individualidade domina nele, o homem pode fazer um bem imenso ao mundo inteiro, ao passo que se se deixa conduzir pela personalidade, que é egocêntrica, ávida, cruel, não pode deixar de prejudicar os outros. Infelizmente, por toda a parte é a personalidade que ocupa o primeiro lugar: nas famílias, onde se vê a mulher a puxar sempre a brasa à sua sardinha e o marido a fazer outro tanto… na sociedade, onde cada um procura abrir caminho a despeito dos outros… Na política, na economia, na arte, por toda a parte, é a personalidade que se exprime, que se impõe, que fulmina.

Mas os humanos não têm critérios suficientes para analisar a origem das suas exigências e das suas reivindicações. Quantas vezes eles têm experimentado mudanças e até revoluções! Mas a situação não melhorou. E por que é que não melhorou? Porque estas revoluções não foram feitas por pessoas que tivessem vontade de se separar das suas tendências inferiores. E enquanto não houver uma melhoria nas mentalidades, quaisquer que sejam as reformas que elas encarem, nenhuma situação poderá realmente melhorar. Só quando elas saírem do pequeno círculo dos seus apetites e cobiças é que as mudanças que fizerem serão verdadeiros melhoramentos.

Até lá, ainda que todos os homens políticos utilizem cada vez mais a palavra «mudança»», continuar-se-á a assistir aos mesmos esforços encarniçados de uma quantidade de ambiciosos para disputar os lugares que lhes darão mais poderes e mais dinheiro. Eles não se preparam para assumir a tarefa grandiosa que lhes cabe, não trabalham para se tomar mais desinteressados, mais nobres, mais senhores de si... modelos! Isso não lhes interessa. Para que lhes serviria melhorarem-se? Não é disso que sentem necessidade. Sentem necessidade de lugares para terem poderes, para saciarem as suas paixões, os seus desejos de conquista, de domínio, de vingança. Eis por que o mundo jamais encontrará a paz!

Na realidade, a sociedade actual é tão pouco esclarecida que encoraja todas as tendências inferiores dos seus membros. Mesmo os pais são tão ignorantes que julgam que educam os filhos incentivando-os a obter favores e privilégios por meios mais ou menos ilícitos. Para eles a educação é isso. Em vez de lhes dizerem: «Prepara-te! Se um dia tiveres responsabilidades, deverás mostrar-te à altura do teu cargo e jamais te comprometer»; não, eles dão-lhes os conselhos mais desonestos e regozijam-se com os seus sucessos mesmo que eles não os mereçam. Pretende-se sempre triunfar no plano material, e como para lá chegar se é obrigado a empregar os calculismos, a astúcia, a violência, acaba-se por destruir tudo o que se tinha de bom no seu carácter.

Vós direis: «Sim, mas se nos conduzirmos segundo os seus conselhos, se nos formos preparar assim para nos tornarmos um modelo, as condições no mundo são tais que ficaremos por aí, desconhecidos, obscuros, no mais baixo da escala.» Que sabeis vós das grandes leis espirituais para tirar semelhantes conclusões? Quando vos tornardes verdadeiramente um ser capaz, excepcional, quando vos tornardes verdadeiramente um modelo, um sol, ainda que não o queirais, ainda que o recuseis, os outros virão pegar em vós à força e colocar-vos-ão no topo para os dirigirdes e os guiardes!… Se isso não acontece, é porque não o mereceis: não estais ainda em condições, portanto, não tendes razões para protestar.

Os humanos aspiram à verdadeira luz, à verdadeira ciência, ao verdadeiro poder, têm necessidade disso, procuram isso, mas, como todos aqueles com quem convivem não são modelos lá muito impecáveis, eles recorrem à desonestidade e à violência para triunfar a todo o custo. Interiormente, todos aspiram ao que é nobre, sublime, mas como não o encontram e se vêem rodeados de malfeitores e de gananciosos, desencorajam-se e começam a imitá-los, adaptando esta filosofia tão difundida: «Fazei o bem e pagar-vos-ão com o mal»… «Se se é honesto, morre-se de fome»… «O homem é um lobo para o homem»… Então, cada vez mais, todos se nivelam, todos sentem afinidade com as criaturas mais inferiores.

O que é triste é que, durante a sua adolescência, muitos têm o desejo de trabalhar para um ideal, de fazer grandes sacrifícios, de se conduzir como cavaleiros: mas ao fim de algum tempo, pelo contacto com a realidade, sob a pressão daqueles que os rodeiam e que os aconselham a ser «racionais», «inteligentes», eles renunciam, nivelam-se, tornam-se como os outros. Vê-se isso por toda a parte: as pessoas têm bons desejos, bons impulsos, só que não encontram instrutores, modelos, para as apoiar, as aconselhar e as impedir de voltar atrás, e então, por causa de todos os pequenos inconvenientes, por causa das troças, das zombarias, ao fim de algum tempo tornam-se como as feras que as rodeiam.

Mas suponde que, no futuro, venham a existir criaturas que lutam, que sacrificam tudo para conseguir realizar um ideal sublime; vereis como depois elas serão procuradas, apreciadas, amadas. E é assim que o Reino de Deus poderá a vir à terra. Se ele ainda não veio é porque a maioria daqueles que governam no mundo não têm um alto ideal. Eles não são assim tão estúpidos nem tão loucos ao ponto de terem objectivos tão sublimes! Preferem aproveitar a situação. Mas se, um dia, alguns se decidirem a realizar este ideal aconteça o que acontecer, então, acreditai, será o verdadeiro poder, a verdadeira luz, a verdadeira beleza.

Só os sábios, os Iniciados, os grandes Mestres que haviam subjugado a sua personalidade puderam deixar a sua natureza divina manifestar-se e legar à humanidade uma obra inolvidável, eterna, indelével. Tais seres sempre existiram – a História recorda-no-los –, mas eles são demasiado poucos em comparação com todas essas personalidades que povoam a terra e dão livre curso aos seus instintos inferiores: a cupidez, a hostilidade, a vingança. Quando semelhantes seres têm responsabilidades políticas num país, não podem deixar de fazer vítimas. É por causa dessa filosofia da personalidade que as guerras nunca acabarão. Enquanto os humanos não mudarem de filosofia, jamais poderão produzir-se verdadeiras melhorias: haverá sempre, em alguma parte do mundo, guerras e misérias.

Se o Reino de Deus ainda não veio à terra, é porque todos trabalham para uma política inspirada pela personalidade. Sim, quando eu analiso os objectivos da política, verifico que eles são sempre medíocres. Ah! Evidentemente, são apresentados com uns quantos adornos, uns quantos ornamentos, para impressionar o grande público. Mas, na realidade, muitas vezes isso equivale a dizer: «Levanta-te, para eu me sentar no teu lugar!» São todos iguais! Mas, pouco a pouco, as pessoas compreenderão que não se pode fazer violinos com qualquer madeira, é preciso encontrar a madeira conveniente. Sim, os homens políticos devem ser preparados, instruídos nas Escolas Iniciáticas, senão continuarão a arrastar os povos para a catástrofe.

Quais são, realmente, as intenções ocultas de todos esses indivíduos que aparecem em público, que falam, que gesticulam, que fazem discursos retumbantes? As pessoas atropelam-se para os ouvir e, como não têm nenhuma clarividência, ficam embaladas, aplaudem, seguem-nos. É assim que os cegos são guiados por outros cegos. Mas vós sabeis o que se diz: «Com cegos a conduzir outros cegos, caem todos no precipício.» Infelizmente, é sempre demasiado tarde, quando as catástrofes já aconteceram é que se dá conta desta cegueira geral. Vede o caso de Hitler, de Estaline, e de tantos outros: que carrascos, que monstros! E houve multidões que os seguiram e os aclamaram…
Eu também trabalho para uma política, mas uma política que não é inspirada pela personalidade. 

O que é triste é que ainda há muito pouca gente preparada para apreender estas ideias. Ide falar às pessoas de uma política inspirada pela individualidade, pela generosidade, pelo desinteresse, pela luz: ninguém vos seguirá. Mas falai-lhes em destruir, em incendiar, e imediatamente isso irá agradar a milhares de pessoas. Por isso – desculpai que o diga – os humanos ainda precisam de sofrer.

Sim, não há outra explicação: os humanos ainda precisam de sofrer, e um dia, por causa destes sofrimentos, encontrarão o caminho. Pensais que eu sou cruel? Não, sinto-me triste ao dizê-lo, mas os humanos têm necessidade de sofrer para compreender. A prova está em que, quando se apresenta um enviado do Céu que pode esclarecê-los e ajudá-los, eles não o escutam! E não só não o escutam como ainda o encarceram, o queimam ou o crucificam. Mas quando se trata de um monstro, que vai fazê-los sofrer, acolhem-no de braços abertos, aclamam-no e dão-lhe todos os poderes para os destruir. Estudai a História e vereis que os humanos procuram aqueles que os fazem sofrer.

Os anais da Ciência Iniciática referem que muitas humanidades desapareceram e que algumas, como por exemplo a raça dos Atlantes, tinham uma cultura e uma técnica muito mais avançadas que as nossas. Elas desapareceram por causa desta tendência da personalidade que impele os seres a quererem dominar e subjugar tudo pela violência.

E, o que é um péssimo presságio para o futuro da humanidade, vê-se esta tendência manifestar-se cada vez mais no mundo actual. Por toda a parte há Estados ou partidos que querem dominar e esmagar os outros, por toda a parte se fabricam armas cada vez mais numerosas e mortíferas. Se existe uma indústria onde não há falta de trabalho é justamente a das armas: todos os países as fabricam para seu próprio uso e para as vender aos outros. Presentemente, a África está cheia de armas que outros países lhe venderam; estes países estão contentes. Enriqueceram, mas como é possível eles não pensarem que um dia sofrerão as consequências catastróficas destas vendas de armas?

A Inteligência Cósmica, que vive na eternidade, não se preocupa com mais humanidade ou menos uma humanidade. Já desapareceram tantas outras que, se esta também desaparecer por sua própria culpa, isso não a perturbará muito: com os poucos indivíduos que ficarem, ela preparará uma nova. Cabe-nos a nós não nos destruirmos. Se nos obstinarmos em tudo fazer para sermos destruídos, a Inteligência Cósmica ficará imperturbável, não intervirá, deixar-nos-á a fazê-lo.

A humanidade chegou a um grau de desenvolvimento muito elevado, é evidente, e este desenvolvimento deve-o ao intelecto. Por si mesmo, o intelecto é neutro, não é nem bem nem mal orientado, mas quando é dirigido pela personalidade – o que acontece na maioria dos casos – esta tem nele o meio mais eficaz de realizar os seus projectos mais perniciosos. Graças ao desenvolvimento extraordinário das faculdades intelectuais, a personalidade conseguiu-manifestar cada vez melhor as suas piores tendências: querer açambarcar tudo e suprimir aquilo que lhe resiste.

E quando eu ouço os discursos de alguns representantes dos partidos políticos ou dos sindicatos, digo para comigo: «Meu Deus, mas o que é que eles imaginam! Jamais as suas actividades darão resultados. Porquê? Porque não são exemplos, não são modelos, têm ambições, ideias preconcebidas, neles é a personalidade que governa.» Vós direis que eles são muito inteligentes, que sabem falar … E certo, mas isso não basta. Eles conhecem a política, a História, a economia, mas são dirigidos pela personalidade. Quando a individualidade vier comandar, então sim, poderão realizar alguma coisa. Mas terão eles sequer a ideia de que existe neles uma natureza superior que deve tomar tudo em mãos?

Nenhum homem pode tornar-se um bom chefe de governo enquanto tiver impulsos, projectos, ditados pela ambição, pelo interesse, pela vaidade ou pelo desejo de vingança… Nestas condições, jamais ele poderá trazer a felicidade ao seu povo. Oh! Claro, para deitar poeira nos olhos, a fim de que não se veja os seus verdadeiros motivos, todos encontram frases magníficas, como a questão da salvação da pátria, a felicidade dos homens, uma verdadeira justiça, e assim por diante. Mas a realidade, eles não podem dizê-la: se eles se apresentassem sinceramente, tal como são, com as suas cobiças, a sua vontade de dominar, ninguém os aceitaria. Eles sabem-no, e é por isso que intrujam, mentem, enganam.

No passado, sim, homens como Gengis Khan, Átila, Tamerlão, podiam obter tudo o que queriam mesmo mostrando-se exactamente como eram. Eram outras épocas, outras mentalidades e quanto mais um chefe se mostrava cruel, injusto, implacável, mais hipóteses tinha de triunfar. Mas agora não se pode. Há que dissimular-se por detrás de objectivos aceitáveis, razoáveis, generosos até, senão está-se perdido. É por isso que, actualmente, se trabalha para adquirir maneiras convenientes a fim de produzir um bom efeito diante do público, a fim de atrair melhor as vítimas, e, uma vez atraídas, hop, engoli-las. É fácil: estas vítimas não têm intuição, nem inteligência, nem conhecimentos. Com alguns métodos e tempo, mesmo um desonesto pode convencer quase seja quem for, com a condição de não mostrar as suas verdadeiras intenções.

Para encontrar seres que tenham objectivos verdadeiramente desinteressados, há que dirigir-se a grandes Iniciados que deram provas, que se purificaram, que sofreram, mas que venceram e triunfaram. Se não for o caso, mais vale desconfiar um pouco. Se, num homem, a natureza superior venceu a natureza inferior, podeis ter confiança nele, mas nunca antes. Antes, o que quer que ele vos diga, desconfiai!

E também em relação a mim não vos digo que tenhais confiança, que acrediteis, que me sigais. Digo-vos somente: «Vinde viver comigo, vinde verificar… » E se, depois de me terdes observado durante meses ou anos, pensardes que podeis confiar, então sereis livres de me seguir. Mas eu, desde o primeiro dia, jamais vos pedi que me seguísseis.

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